A Chiquinho Sorvetes, uma das maiores redes de franquias do Brasil no segmento de sorvetes, anunciou no dia 19 de abril sua nova identidade visual. A mudança, divulgada inicialmente no Instagram da marca, veio acompanhada de uma promessa: “somos mais, mas sem perder o que nos torna únicos”.
No entanto, a novidade não agradou a todos. Críticas surgiram em diversas plataformas digitais, colocando em evidência um debate cada vez mais comum no universo das marcas: como equilibrar a modernização sem perder a essência?
Vamos entender mais sobre esse assunto delicado com um de nossos especialistas em marketing? Boa leitura!
Entenda a polêmica
O novo logo da Chiquinho Sorvetes mantém as cores tradicionais da marca, mas substitui o antigo símbolo — um alvo vermelho e branco com o nome centralizado — por uma ilustração mais literal: um sorvete sobreposto. O intuito, segundo a empresa, foi transmitir com clareza o produto oferecido, além de reforçar os valores de carinho, fé e felicidade que dizem nortear a operação da rede.
Porém, o que era para ser uma renovação positiva acabou se tornando alvo de críticas. Internautas acusaram o novo logotipo de ser genérico, pouco criativo e até mesmo artificial. “Eu imploro: voltem para o logo anterior”, escreveu um usuário.
O episódio revela como mudanças visuais em marcas consolidadas podem gerar reações intensas, especialmente quando tocam em símbolos afetivos para o público. Em vez de reforçar a conexão emocional construída ao longo dos anos, o novo logo da Chiquinho foi visto por muitos como um rompimento brusco com sua identidade.
A forte repercussão nas redes sociais expôs um dilema comum no branding atual: até que ponto é possível inovar sem alienar os consumidores mais fiéis?
O que é rebranding visual?
O rebranding visual é uma estratégia que envolve a reformulação de elementos visuais de uma marca, como logotipo, tipografia, cores e até layout de lojas, com o objetivo de reposicioná-la no mercado. Ele pode ser motivado por diversos fatores: modernização, expansão para novos públicos, diferenciação frente à concorrência ou realinhamento com os valores institucionais.
No caso da Chiquinho Sorvetes, o novo visual também abrange a ambientação das lojas, trazendo uma proposta mais contemporânea. Em nota à imprensa, a empresa afirmou estar ciente das reações e considerou as críticas como parte natural do processo. Contudo, não confirmou se houve uso de inteligência artificial na criação do novo símbolo, como sugerido em alguns comentários nas redes.
O apego ao padrão já conhecido
Boa parte do desconforto do público com o novo logotipo vem do apego à identidade anterior. Construído ao longo de décadas, o antigo visual da Chiquinho Sorvetes não era apenas familiar: ele era parte da paisagem urbana, especialmente em cidades pequenas e médias do interior brasileiro, onde a marca consolidou sua presença.
Esse fenômeno é comum em processos de rebranding. Quando uma marca muda aquilo que o público já reconhece e associa emocionalmente, há uma resistência natural. As pessoas não reagem apenas ao design em si, mas ao rompimento de uma relação construída com o tempo.
Vamos relembrar alguns dos rebrandings mais icônicos do Brasil?
1. Banco Itaú (2000s)

O que mudou: O banco passou de uma identidade mais tradicional para um visual mais moderno, com a clássica moldura laranja e o nome em azul. A atualização buscava transmitir inovação e solidez.
Impacto: Tornou-se uma das identidades visuais mais reconhecidas do país.
2. Globo (2021)

O que mudou: A Globo unificou a identidade de seus canais e plataformas (TV Globo, Globoplay, G1, etc.) com uma linguagem visual minimalista e um novo logotipo animado.
Impacto: Marcou uma transição para o digital, fortalecendo a percepção de inovação.
3. O Boticário (2021)

O que mudou: A marca modernizou seu logotipo, adotando uma tipografia mais fina e elegante, além de uma nova paleta visual.
Impacto: Aproximação de públicos mais jovens e reforço da imagem premium.
A importância de se reinventar
Apesar das críticas, reinventar-se é parte fundamental da trajetória de qualquer marca com ambição de se manter relevante. A Chiquinho Sorvetes, que começou como uma casa de sucos em Frutal (MG) nos anos 1980 e hoje conta com mais de 920 unidades em todo o país, já passou por outras transformações, inclusive no próprio logotipo, que ao longo do tempo perdeu o subtítulo “sorvetes” e adotou uma estética mais limpa.
O desafio está em fazer essa reinvenção sem desapontar o público já conquistado. O rebranding pode sim causar ruído no início, mas também é uma oportunidade de iniciar um novo ciclo de comunicação, atrair novos consumidores e reforçar atributos desejáveis como inovação, frescor e proximidade com as novas gerações.
Se, por um lado, o novo logo da Chiquinho Sorvetes ainda enfrenta resistência, por outro, ele também marca uma tentativa da empresa de olhar para o futuro.
A história mostra que rebrandings bem-sucedidos não se definem apenas pelo design inicial, mas pela capacidade da marca de construir, comunicar e sustentar sua nova proposta.